Uma das aves mais vistas na Reserva Mamirauá, as ciganas possuem dedos com garras nas asas quando filhotes e têm digestão semelhante a de bois!
As Ciganas (Opisthocomus hoazin) estão entre as aves com aparência mais marcante dentre as 377 espécies que ocorrem na Reserva Mamirauá. Alguns guias locais dizem que esses animais ganharam esse nome popular porque aparentam usar maquiagem azul em volta dos olhos. Pra mim, esses animais passam uma vibe mais “rock star” com essas penas compridas e eretas no topo da cabeça, os olhos vermelhos destacados e as cores escuras predominantes pelo corpo.
Outra característica física especial dessas aves é a presença de dedos com garras nas asas dos filhotes, mas que se perdem na fase adulta. Essas garras são úteis pois auxiliam os juvenis na locomoção. Quando ameaçados, os filhotes podem se jogar dos ninhos suspensos para a água logo abaixo, nadar até a vegetação nas margens e escalar de volta quando for seguro. As Ciganas ganharam o título de “fósseis viventes” por esse apêndice nas asas, presentes também nos fósseis encontrados de Archeopteryx, animal extinto que seria o elo entre os répteis e as primeiras aves.
Uma ave ou um boi? 🤔
Entretanto, não é apenas o visual que diferencia a espécie, esta ave é a única no mundo a apresentar um sistema digestório semelhante ao dos ruminantes! Assim sendo, as Ciganas tem uma dieta folívora, com digestão da celulose proporcionada por bactérias simbiontes que vivem em seus grandes papos. Estes inclusive são responsáveis pelo aumento da massa corpórea do animal e isso reflete na baixa capacidade de voo das Ciganas (de fato estas não voam elegantemente).
Todos esses atributos singulares fazem com que as Ciganas tenham ganhado uma ordem (Opisthocomiformes) e uma Família (Opisthocomidae) próprias, mas no passado já estiveram associadas aos galináceos (ordem Galliformes), aos turacos (família Musophagidae), aos pombos (família Columbidae), aos cucos (ordem Cuculiformes), entre outros. A história evolutiva da espécie Opisthocomus hoazin e a relação desta com os demais grupos de aves ainda não estão totalmente esclarecidas, sendo necessários mais estudos e talvez mais registros fósseis, o que com certeza é bem mais difícil de obter. De qualquer maneira a ciência nunca se deteve diante das dificuldades e, portanto, a busca continua (felizmente, para os eternos curiosos como eu! 😀 ).
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Créditos (fotos e texto): Cynthia Lebrão
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