O pirarucu é o maior peixe de escamas de água doce do mundo, podendo chegar a 3 metros de comprimento e pesar 200 quilos
Para os indígenas falantes de tupi pira significa peixe (como em piranha, pirarara, piracatinga) e urucu é vermelho (tipo em urucum) e, portanto essa é a origem do nome popular do nosso personagem amazônico de hoje: o Pirarucu, peixe que apresenta faixas vermelhas em suas escamas.
Na ciência o animal é conhecido como Arapaima gigas. Arapaima parece ser uma variação do nome que a etnia Macuxi dá ao peixe: warapaimo. E gigas, como é de se pensar; se refere ao tamanho colossal do animal. O pirarucu é o maior peixe de escamas de água doce do mundo, podendo chegar a 3 metros de comprimento e pesar 200 quilos!
Se você está achando o bicho durão imagine ainda que ele evoluiu para ser a prova de piranhas, sendo que as escamas são grandes e muito resistentes, com uma camada externa mineral, mas também uma grossa camada interna de colágeno que confere mais proteção e permite o encaixe perfeito para dar mobilidade ao animal, enfim uma cota de malha (melhorada pelo material aderente) embutida na pele. Falando em resistência podemos citar também o osso da língua do pirarucu (o peixe faz parte de um grupo que tem a língua ossada, a ordem Osteoglossiformes) que depois que o animal é abatido é usado pelos ribeirinhos como ralador (para ralar o cacau, por exemplo). Ah, as escamas secas podem ser usadas como lixa de unha!
Outra característica muito peculiar do pirarucu é sua respiração aérea. Sim, é isso mesmo, um peixe que precisa subir à superfície para respirar! Na época de seca é muito comum ver os guias locais apontando aonde viram o animal boiar e então às vezes é possível ter um vislumbre de suas escamas vermelhas voltando a afundar, mas normalmente só olhamos a tempo de ver a água espalhada pelo movimento e ouvimos o barulho seco que a cauda produz quando bate com força no rio. A época seca é também o período em que os casais se formam, os machos podem assumir uma coloração mais avermelhada para chamar atenção das fêmeas. Antes da postura dos ovos, os pais procuram um local adequado para o ninho, fazem a limpeza da área e cavam no substrato um ninho circular, chamado pelos locais de “panelão”. O cuidado dos pais é intenso (sério, o macho carrega os alevinos na boca!) e perdura até os filhotes completarem 6 meses de vida.
Arapaima gigas esteve próximo à extinção devido à intensificação da pesca predatória que se estendeu da década de 70 até o inicio dos anos 1990. Não só os estoques naturais de pirarucu foram afetados, mas também as populações tradicionais que dependem da pesca artesanal. Para tentar reverter essa situação, a espécie passou a ser protegida por lei em 1996 podendo ser capturada para comercialização apenas em casos específicos, como o do manejo. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá foi o primeiro local onde foi implantado o manejo participativo sustentável do pirarucu em 1999, o protocolo foi sistematizado por cientistas e técnicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), mas inclui o conhecimento tradicional dos pescadores artesanais locais. Este manejo garante a continuidade e qualidade do recurso pesqueiro, dos modos de vida tradicionais, da fonte de renda dos povos locais e da espécie, que continua a habitar tranquilamente sob as águas do lago e da reserva Mamirauá e também no símbolo do IDSM.
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Créditos:
texto: Cynthia Lebrão
Imagens: Daniele Barcelos, Bernardo Oliveira, Edu Coelho, Ricardo Oliveira, Amanda Lelis
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