Uma pesquisa científica sobre o avistamento de macacos uacari e seu monitoramento realizado pelos turistas da Uakari Lodge acaba de ser publicado no International Journal of Primatology. O artigo, entitulado “Turismo de Base Comunitária e Observação de Primatas como Estratégia de Conservação na Amazônia” é resultado de um trabalho realizado ao longo de 02 anos, em uma parceria dos guias locais e naturalistas e os visitantes da Reserva Mamirauá.
O monitoramento do macaco uacari foi desenhado no final de 2018 com o objetivo de compreender qual era a porcentagem dos visitantes da Uakari Lodge que conseguiam fazer o avistamento desta espécie, e quais eram os fatores que influenciavam nos avistamentos. Com isso, a equipe de guias locais e naturalistas começaram um estudo de como melhorar os passeios para que as chances (que já são altas!) de avistamento aumentassem ao longo do tempo.
O mais interessante desta pesquisa foi a sua estratégia: transformar ela em atividade de ecoturismo para seus visitantes!
Os guias locais, a cada saída a campo com turistas, controlavam em tabelas o número de pessoas que participavam do seu grupo, qual era a trilha utilizada, se houve avistamento do animal e, em caso positivo, quantos macacos eram e o que eles estavam fazendo. Os turistas, por sua vez, também tinham sua tabela, e nela davam informações do avistamento e dos serviços contratados para a Uakari Lodge. Os turistas eram informados que estavam participando de um programa de monitoramento e que eram peça-chave nesta pesquisa científica, o que motivava ainda mais a busca pelos uacaris durante as atividades de ecoturismo.
O volume de dados colhidos ao longo deste tempo permitiu o desenvolvimento desta pesquisa científica com o envolvimento dos guias locais da Uakari Lodge e seus turistas. Foram coletadas informações de 655 hóspedes ao longo deste tempo, que participaram de 334 dias de campo distribuídas em 602 atividades de lazer nas trilhas e canais da Reserva Mamirauá.
Esta é uma estratégia eficiente para a coleta de dados científicos, que foram analisados posteriormente pelo Grupo de Pesquisas de Primatas e pelo Programa de Turismo de Base Comunitária do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - fundador e co-gestor da Uakari Lodge. Por ser uma espécie de distribuição restrita ao Médio Solimões, a coleta de dados do uacari se torna ainda mais desafiadora por não haver muitos estudos específicos. O trabalho foi publicado pela guia naturalista da Uakari Lodge, a bióloga Cynthia Lebrão em parceria com os primatólogos Fernanda Paim e Felipe Enes, com importantes colaborações de Pedro Nassar (Coordenador do Programa de Turismo de Base Comunitária), Lana Rosa (guia naturalista da Uakari Lodge à época da coleta de dados) e do estatístico Hani Bizri.
73.4% dos hóspedes na Uakari Lodge conseguiram avistar o macaco uacari pelo menos 01 vez. Em 55% dos avistamentos os macacos uacari estavam se movimento, realizando “viagens”. Em 35% eles estavam se alimentando e somente em 9% destes avistamentos os animais estavam descansando.
Outro dado importante é que os avistamentos aconteceram com maior frequência e em maiores grupos de animais juntos durante as épocas de cheia e a bordo das canoas de madeira, atividade clássica de lazer da Uakari Lodge. Isto se explica porque nas épocas de cheia a quantidade de frutos é mais abundante, e assim os uacaris não precisam viajar longas distâncias para se alimentar. Os passeios de canoa também costumam ser mais silenciosos, sem causar a percepção da presença do turista em grande parte das situações de campo.
Importante ressaltar que a Uakari Lodge não interfere no comportamento de nenhuma espécie animal da Reserva Mamirauá com fins de observação - motivo que faz da experiência da pousada ganhadora de prêmios nacionais e internacionais que reconhecem seus esforços em transformar o turismo em atividade de conservação da biodiversidade local. Os monitoramentos de fauna na Uakari Lodge e sua relação com a atividade turística já foram objeto de outros estudos desenvolvidos pelo Instituto Mamirauá, que mostram que as atividades de lazer aqui não causam impactos no comportamento de primatas.
Se você quiser conhecer os resultados completos desta pesquisa, clique aqui!
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Imagens: Cynthia Lebrão
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