No dia 20 de novembro celebramos o Dia da Consciência Negra, para a resistência ao escravismo, luta pela liberdade e acesso aos direitos civis - e agora mais que nunca: justiça ambiental!
Foto: Miguel Monteiro.
Você acorda, abre as janelas e sente o frescor tocando seu rosto. Ao andar na rua, o céu está lindo e o sol toca gentilmente sua pele, filtrado pelas árvores que acompanham todo o caminho.
Você inspira e sente o cheiro de flor, da mistura das folhas que caíram com a terra pronta para transformá-la em nutrientes para as plantas, e estas que tem seu cheiro amadeirado.
Em dias difíceis, é só atravessar a rua e tem uma grama limpa, verdinha e fofa para te acolher. Ou pode caminhar pela quadra e observar a variedade de árvores, arbustos e flores. Facilmente se escuta os pássaros a cantar.
Ao ligar a televisão, a maioria das notícias estão relacionadas aos desastres ambientais: enchentes pelo sul, deslizamentos de terra no sudeste, seca extrema pelo norte… Também passa sobre a falta de saneamento básico em diversas regiões do país.
Há um mito de que a questão ambiental atinge a todos igualmente.
A falta de investimento em regiões sem saneamento básico, o despejo de resíduos nocivos à saúde em regiões de vulnerabilidade social, a distribuição desigual das moradias, ausência de planejamento urbano, a grilagem e a exploração de terras pertencentes a povos locais são exemplos da manifestação do racismo ambiental.
Não é uma coincidência que as populações pretas e indígenas sejam as mais afetadas pelos desastres ambientais.
O período colonial tornou as estruturas sociais baseadas na escravização de pessoas negras e indígenas, aqui no Brasil. Estas pessoas passaram a ser invisibilizadas e postas à margem da sociedade, física e socialmente. O processo de alforria foi realizado sem nenhum tipo de reparação dos danos causados pela escravidão ou integração dos libertos.
Assim foram se formando as comunidades periféricas, onde muitas estão em zonas de risco - e de maioria preta.
Te convido agora para entrarmos em reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira.
Ainda que a miscigenação crie uma sensação de harmonia, com aparente afetividade entre os diferentes, o preconceito ainda ocorre cotidianamente, porém de forma mascarada - o jeito de olhar, a desconfiança, as expressões corporais… Retornar para este ponto sobre valorizar a cultura e a história dos negros é importante para nos fazer reconhecer nossas ascendências e enfrentas as feridas abertas presentes ainda na contemporâneidade - convivemos com a violência que começou no período escravagista.
Quando se fala em projeto de nação que busque uma diversidade real, democrática, deve-se começar pela justiça ambiental, que tem como pano de fundo a imagética da sustentabilidade, no entanto, uma visão ampliada do termo.
Assim surge a ideia da justiça ambiental:
“[...] um conjunto de princípios e práticas a quais asseguram que nenhum grupo social, seja ele étnico ou de classe, suporte uma parcela desproporcional das consequências ambientais negativas advindas de operações econômicas, decisões políticas e de programas de políticas públicas, assim como da ausência ou omissão de tais políticas.”
Valdir Lamim-Guedes
Atualmente, para se alcançar a sustentabilidade, temos que preservar as pessoas com seus costumes e saberes.
Há caminhos para fazermos em direção à justiça social:
melhoria dos indicadores sociais;
planejamento urbano para investimento em saneamento e arborização das regiões periféricas;
reconhecimento de quilombos como populações tradicionais e demarcação das suas como relevância socioambiental - por fazerem a manutenção da natureza onde estão inseridos.
O debate para uma solução deve envolver a todos, uma vez que os problemas enfrentados pelos negros foram normalizados pela sociedade brasileira - foi criada e permanece atualmente.
Ansiar por uma sociedade mais sustentável é perpassar por um novo posicionamento: aproximar as questões raciais às pautas socioambientais.
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Referência:
LAMIM-GUEDES, Valdir. Consciência Negra, Justiça Ambiental e Sustentabilidade. Eco Debate, 2010. Disponível em: <https://www.ecodebate.com.br/2010/11/25/consciencia-negra-justica-ambiental-e-sustentabilidade-artigo-de-valdir-lamim-guedes/>.
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