A Reserva Mamirauá é um importante berçário e refúgio desta bela espécie de golfinho
No post da semana passada falei sobre os famosos botos cor-de-rosa e o quão diferentes são de outras espécies de golfinhos. Em Mamirauá essas diferenças ficam evidentes pela presença de outro boto, o cinza, mais conhecido pelo nome popular tucuxi.
A maioria das pessoas que vem à Amazônia já ouviu falar e espera ver o boto-cor-de-rosa em suas visitas, mas se surpreendem ao ver também outro golfinho, tão parecido com os marinhos, saltando pelos rios da região. O tucuxi surgiu mais recentemente na Amazônia, possivelmente há 2,5 milhões de anos, vindo do Oceano Atlântico e manteve a aparência bem próxima à de seus parentes marinhos. Atualmente são reconhecidas duas espécies de tucuxi: Sotalia guianensis, que ocorre em áreas marinhas e estuarinas (zonas de encontro de rios com o oceano) e Sotalia fluviatilis que habita ambientes de água doce, inclusive no entorno da Pousada Uacari.
Sotalia fluviatilis é uma espécie de golfinhos pequenos, um dos menores da família Delphinidae, com comprimento médio de 1,5 metros e peso de cerca de 50 kg. O tamanho e a anatomia, incluindo a clássica forma de torpedo, desses botos faz com que sejam nadadores rápidos e saltadores habilidosos. Presenciar as acrobacias desses animais é incrível e as memórias normalmente ficam gravadas na mente mesmo, já que registrar em foto é uma tarefa difícil, eu mesma (que passo boas horas em campo) não tenho fotos dos tucuxis (na verdade tenho muitas tentativas de fotos rs).
Diferentemente dos botos-cor-de-rosa, os tucuxis não apresentam dimorfismo sexual (quando machos e fêmeas apresentam características físicas – não relativas aos órgãos sexuais – diferentes) evidente. Mas as diferenças entre o tucuxi e o boto-cor-de-rosa vão além das físicas: estes são solitários enquanto os tucuxis vivem em grupos, de até normalmente seis indivíduos, mas agrupamentos de 40 animais já foram reportados.
Assim como todos os golfinhos, os tucuxis tem um órgão de ecolocalização chamado melão (localizado na parte frontal do crânio), este emite sons de alta frequência que alcançam objetos no ambiente e o eco resultante dessa interação volta para os botos, permitindo com que o cérebro forme imagens.
As maiores ameaças a esses mamíferos são os dejetos do garimpo que podem contaminar a água em que vivem e também as presas de que se alimentam, perda de hábitat e interferência humana neste (especialmente construção de hidrelétricas ao longo dos rios) e principalmente a captura acidental em redes de pesca. Felizmente, ainda existem áreas protegidas como a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que além de serem refúgios e áreas de berçários importantes para estes e outros animais aquáticos, ainda envolve populações tradicionais, cientistas e turistas na conservação desses, afinal a preservação da Amazônia é urgente e precisa de tantas mãos quanto pudermos conseguir.
***
Créditos:
. Texto: Cynthia Lebrão
. Imagens: Gui Gomes
Comments